O que vem após o neoliberalismo?

N. T.: Publica-se abaixo um artigo informativo, mas algo confuso, que responde ao título acima. Ele versa sobre as mudanças no capitalismo advindas da ascensão das grandes empresas de tecnologia digital (big techs) e das gestoras ativos, as quais são apresentadas como “rentistas”. Apesar disso, ele põe um problema teórico que seria preciso desenvolver a partir da apresentação dialética de O capital. O artigo não resolve essa questão, ao contrário, atrapalha o esforço de resolvê-la de um modo rigoroso.

Ele não compreende que capital é uma relação social de exploração que se manifesta por meio de formas reificadas, a saber, dinheiro, meios de produção, força de trabalho e mercadorias acabadas. Não consegue ver que as plataformas são uma forma de capital financeiro. Ele parece não saber nada sobre a distinção entre o capital portador de juros, que financia a produção de mercadorias, e o capital fictício, que financia o consumo ou tem uma relação indireta com a produção. Chama, por isso, os pagamentos associados ao capital fictício de renda, confundindo, assim, os “juros” apropriados pelo capital fictício – que não é de fato capital, mas parece que é – com a renda da terra. É partindo desse erro crasso, que teóricos pouco rigorosos citados no artigo chegam à ideia absurda do tecnofeudalismo.  Contudo, ainda assim o artigo pode ser lido com proveito por aqueles que querem pensar o capitalismo em sua configuração contemporânea.


Continuar lendo

Felicidade subversiva

A felicidade talvez tenha sido a maneira ocidental de discutir o que hoje é chamado de “bem viver” ou de “vida bem gostosa”. Ou seja, discutir a própria definição da vida boa

Amador Fernández-Savater[1] – 20/05/2023 – CTXT

Abraçando a nova direção / Acácio Puig

“Povos felizes não têm história”

A felicidade, hoje, pressiona negativamente o pensamento crítico. Eis que é considerada como uma ilusão. Mas também, soe ser pensada como um mandato obrigatório, como um sonho complicado da classe média: “seja feliz!”.

Postei no Facebook uma citação de Pasolini a favor da felicidade e alguém imediatamente respondeu: “Pasolini capacitista! – a felicidade está cancelada”.

Continuar lendo

Em guerra com o “meu” neoliberalismo

Autor: Amador Fernández-Savater [1]

Vários exercícios de “economia libidinal” são ensaiados neste livro [Capitalismo Libidinal [2]] O que se quer dizer com esse título? O que ele significa?

Em primeiro lugar, uma espécie de escuta, acolhida de fenômenos que chamam a atenção, não apenas os discursos ou as identidades, os cálculos ou os interesses, mas também às posições do desejo e as flutuações de humor, desejos e relutâncias, assim como os estados anímicos.

Jean-François Lyotard, em seu livro intitulado Economia Libidinal, nos ensina a distinção entre signos e intensidades: o que é dito e o que acontece, o nível de informação e o nível das forças. Nosso ouvido, hipersemiotizado, registra (e acredite-se!) as retóricas, as declarações, as gesticulações, mas deixa escapar os funcionamentos, as ações e os movimentos que deslizam “por baixo”. É um ouvido incauto, que fetichiza sinais, que acredita no que é dito e mostrado, leva as coisas ao pé da letra. Mas não basta falar de algo (revolução, comunidade, cuidado) para que ele exista. E vice-versa: há existências imperceptíveis, sem nome, sem termo de referência, sem rótulo.

Continuar lendo