A interversão do Esclarecimento

Autora: Gillian Rose [1]

A obra Dialética do esclarecimento de Horkheimer e Adorno foi escrita dez anos depois dos escritos até agora considerados [no livro Marxist Modernism – Introductory lectures of Frankfurt School critical theory]. Eles o escreveram nos anos 40. Eis que os livros que discutimos até agora – de Lukács, Bloch e Benjamin – foram todos escritos nos anos 30. Nele, eles criticam as posições desses três filósofos nos campos da filosofia da história, da teoria da sociedade capitalista tardia e da estética.

Agora, para recapitular os pontos antes alcançados, reafirmamos: Lukács viu o período de sucesso do fascismo como um período de desintegração e decadência; Bloch, por outro lado, viu-o como um período de desintegração, mas o considerou como um momento de transição; e Benjamin, de outro modo, por um lado, considerava que as novas formas de tecnologia do período teriam um potencial libertador, mas, por outro lado, ressaltou que o inimigo de classe não havia deixado de ser vitorioso.

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Marx e Freud, um pelo outro

Qual é o tema da teoria crítica?[1]

Sandrine Aumercier[2] e Frank Grohmann[3]

A hipótese freudiana do inconsciente é inseparável de uma crítica do sujeito; o exame de Marx das categorias da economia política constitui uma crítica às relações sociais objetivas do capitalismo. As pesquisas enciclopédicas de Marx em todos os campos científicos de seu tempo, bem como as incansáveis incursões de Freud em disciplinas vizinhas – e, em particular, na teoria da cultura – mostram que nenhum dos dois desconhecia as limitações de suas respectivas abordagens. Pelo contrário, eles foram receptivos ao fato de que o método empregado exigia necessariamente uma extensão para além de si mesmo. Nenhum deles, entretanto, foi capaz de extrair todas as consequências dessa necessidade.

O que ambas as críticas têm em comum é que elas retornam à materialidade da vida psíquica e da vida social. A psicanálise o faz por meio da análise do desvio das formações do inconsciente; a crítica da economia política o faz por meio do exame das consequências sociais da redução da vida humana a um mero apêndice do movimento autônomo do valor, algo que acontece às costas do portador da função. O problema da consciência emerge em ambos como o verdadeiro escândalo.

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