A ideologia do capital posto em plataformas

Autor: Eleutério F. S. Prado [1]

Nesse artigo pretende-se examinar criticamente a tese sobre o atual desenvolvimento e sobre o futuro do capitalismo, apresentada por Peter Thiel em seu livro De zero a um.[2] Formado em Filosofia e Direito e grande investidor em tecnologias digitais, esse intelectual engajado previu nele que o futuro desse sistema econômico, baseado que está na relação de capital, será formidável.

Além de ter se tornado um controvertido bilionário que milita como empresário no Vale do Silício, esse autor é conhecido por apoiar a criação de “cidades de liberdade”. Nelas – imagina ele – o capitalismo é extremado e se desvencilha do Estado e da política, mas não evidentemente da polícia. Eis que a segurança em tais cidades será feita por robôs munidos de inteligência artificial, os quais terão a função de expulsar ou eliminar os intrusos e os indesejados.  

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Quem pode ser chamado de rentista?

Autor: Eleutério F. S. Prado [1]

Introdução

O livro de Brett Christophers (já examinado em outro escrito), que chama o capitalismo de rentista[2], tem, como o próprio título já mostra, uma tese sobre o desenvolvimento contemporâneo desse sistema de produção, repartição e consumo. Para chegar a essa conclusão, ele se baseia numa distinção entre produzir para o mercado e possuir direito de obtenção de renda na economia mercantil. Contudo, bem examinada, esse entendimento não se sustenta teoricamente – mesmo que o livro seja bem interessante como uma expressão do rumo histórico recente desse sistema.   

É, pois, importante ver como ele põe essa distinção examinando um caso particular: a Arqiva, uma grande empresa britânica provedora de serviços de telecomunicação, “primariamente, não extrai, produz ou provê”, ou seja, não cria mercadorias, pois “o crucial em seu modelo de negócio não consiste em fazer algo; ao invés, consiste em ter”.  Eis que, segundo ele, ela não está na atividade de “extração de materiais (setor primário), de produzir industrialmente (setor secundário) ou de prover serviços (setor terciário)”; vale-se supostamente das demandas de consumidores e de outras empresas para extrair renda.

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