A experiência analítica e seu futuro

Autor: Pierre Fougeyrollas

A nossa crítica seria incompleta se não focalizasse também a experiência analítica tal como é concebida por Lacan. No centro desse modo de interação, ele coloca o processo de transferência, o que não nos parece errado.

De fato, à Freud parecia que a manifestação da transferência constituía o ponto de inflexão da cura. Pois o paciente literalmente permanece um paciente enquanto o narcisismo neurótico o impede de investir efetivamente a sua libido num outro. O amor de transferência é justamente o renascimento de uma capacidade de investimento objetal que se dirige a um outro privilegiado: o analista. E, a partir daí, abre-se uma nova fase em que o nó neo-edipiano da transferência pode ser desatado, dando assim, gradualmente, à libido um mínimo de fluidez e margem de manobra.

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A crítica de Marcuse à Fromm

Autor: Eleutério F. S. Prado [1]

Como se sabe, a avaliação negativa de Herbert Marcuse da obra de Erich Fromm – assim como das teorias de Karen Horney e de Harry S. Sullivan, ou seja, ao que denomina de “revisionismo neofreudiano” – se encontra no epílogo do livro Eros e Civilização, publicado originalmente em 1955. A escola culturalista – diz ele – rejeita a teoria da pulsão de Freud e, ao fazê-lo, inibe o seu caráter crítico da sociedade: “o enfraquecimento (…) da teoria da sexualidade [original], conduz a um enfraquecimento [revisionista] da crítica sociológica” (Marcuse, 1978, p. 209).[2]

Aqui, apenas o primeiro autor acima mencionado, Fromm, será considerado. Ademais, a apreciação de autores diversos por atacado costuma perder a precisão, cometendo injustiças. E este, pelo menos à princípio, pode ser o caso aqui discutido.  

Veja-se, Marcuse sustentou em seu texto que Fromm havia se afastado da teoria da libido de Freud.  No entanto, Fromm, num de seus últimos escritos, esclareceu que nunca rejeitara a teoria das pulsões de Freud, ainda que tenha criticado o seu caráter estático: “minha crítica à teoria da libido não se dirige a sua orientação biológica como tal, mas antes (…) a fisiologia mecanicista na qual (…) se enraíza” (Fromm, 2013, p. 19).

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