Sohn-Rethel: a mercadoria e a ciência moderna

Autor: Eleutério F. S.Prado[1]

Da síntese social

Sohn-Rethel – que se definia como marxista crítico – em seu Trabalho manual e intelectual: para a crítica da epistemologia ocidental (1978), agora traduzido para o português (2024), sustenta uma tese audaciosa. “O trabalho manual se ocupa das coisas, das quais a razão teórica considera apenas o ‘fenômeno’” (Sohn-Rethel, 2024. p. 41). A partir desse problema, ele busca descobrir a origem social e histórica do modo de pensar a natureza e a sociedade que se vale fortemente da linguagem da matemática. E ele a encontra, na contracorrente das idéias dominantes, nas abstrações inerentes à forma mercadoria.

Ora, essa competência no uso de tal “ferramental” desenvolve-se, sobretudo, na época moderna quando a relação de capital se torna hegemônica na estruturação da sociabilidade humana, mas ela nasce, conforme enfatiza, na Grécia antiga quando se passou a utilizar a moeda cunhada no comércio[2]. Como se sabe, é nessa época em que se dá a aurora do pensamento racional, emergente como filosofia, em oposição ao pensamento mitológico. Segundo Vernant, “foi no século VI antes de nossa era, nas cidades gregas da Ásia Menor, que surgiu uma forma de reflexão nova, inteiramente positiva, sobre a natureza” (Vernant, 1990, p. 349).

A sua investigação tem como pressuposto uma tese materialista: cada época histórica está definida principalmente por um processo objetivo de síntese social que engendra determinadas formas de pensamento, as quais têm também de ser caracterizadas como socialmente necessárias. Ele entende por “síntese social” a rede estrutural de relações sociais que articula os membros da sociedade, fazendo dela um todo coerente, ainda que contraditório. É evidente – e ele mesmo aponta – que esse ponto de partida reflete conhecida afirmação de Marx sobre a relação de prioridade da prática material histórica em relação às formas do pensamento e às instituições:

“Na produção social da própria vida, os homens contraem relações determinadas, necessárias e independentes de sua vontade, relações de produção estas que correspondem a uma etapa determinada de desenvolvimento das forças produtivas materiais. A totalidade dessas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base sobre a qual se levanta uma superestrutura jurídica e política, e à qual correspondem formas sociais determinadas de consciência. O modo de produção da vida material condiciona o processo em geral da vida social, político e espiritual. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que determina a sua consciência” (Marx, 1978, p. 130).[3]

Observe-se, entretanto, que a partir daí Sohn-Rethel chega a uma tese ousada, a qual vai bem além do que está proposto nesse conhecido resumo do materialismo histórico. Tal como Marx, ele põe ênfase especial na consideração de que o processo de síntese constituinte da sociedade – seja ele consciente ou ocorra inconscientemente – depende de modo primário daquilo que os homens fazem e apenas secundariamente do que eles pensam que fazem. Porém, diferentemente de seu mentor intelectual, ele não se refere apenas à precedência da atividade econômica estruturada por certas relações de produção na formação da superestrutura jurídica, política etc. Pois, num esforço de décadas, pretendeu ir além.

O projeto teórico

 Eis que Sohn-Rethel se propôs a expor os próprios fundamentos das faculdades cognitivas mobilizadas na matemática e na ciência moderna, as quais se configuram, na filosofia idealista de Kant, como faculdades do sujeito transcendental. Na verdade, apresenta a tese revolucionária segundo a qual esses fundamentos a priori do conhecimento matemático e científico em constante ampliação podem ser encontrados na objetividade da “abstração mercantil” (Galvan, 2000).

Mais especificamente, sustenta três pontos conexos que estabelecem a relação entre a abstração mercantil e as abstrações cognitivas mais gerais:

a) a troca mercantil produz uma abstração real que perfaz ela mesma, sem que os homens o saibam, a função de síntese do processo social;

b) essa abstração, complexa em si mesma, pode ser decomposta em um conjunto de elementos significativos, os quais estão interligados e articulados entre si objetivamente na própria troca;

c) assim que deslindados, esses elementos podem, depois, ser encontrados, agora como conceitos puros, nas faculdades cognitivas sintetizadoras, as quais são atribuídas pela filosofia idealista à atividade originária do cérebro humano.[4] Tais faculdades, subjacentes à atividade intelectual que formula sistemas axiomático-dedutivos e que descobre as leis da natureza em geral, aparecem então como elucidáveis em si mesmas pela pura reflexão.

“Em termos muito gerais, isto, que eu denomino síntese social, é uma condição necessária para qualquer tipo de sociedade. (…) Com esse conceito, posso formular a proposição fundamental de que, em determinada época, as estruturas de pensamento socialmente necessárias estão em estreita relação formal com as formas de síntese social” (Sohn-Rethel, 2024, p. 26),

Em resumo, tendo agora por referência a época histórica em que prevalece a economia mercantil, procura mostrar que existe uma relação estreita entre os elementos formais da síntese social com os elementos formais da cognição, inerente ao proceder da ciência moderna.

“As formas de abstração que constituem a função sociosintética do dinheiro podem ser indentificadas de modo isolado e, nesse passo, elas se revelam, em sociedades que produzem mercadorias, ou seja, mediadas pelo dinheiro, como os princípios organizadores basilares das funções cognitivas do pensamento necessárias nessa sociedade” (Sohn-Rethel, 2024, p. 27),

Sohn-Rethel não nega que “a razão só discerne o que ela mesma produz segundo o seu projeto” (Kant, 1991, p. 13), mas acrescenta que o seu modo de se configurar como tal já se encontra inscrito objetivamente na prática mercantil. Prática esta, aliás, é bom ressaltar, que se tornou cada vez mais marcante e sistemática ao longo dos séculos, desde os primórdios do comércio organizado monetariamente nas cidades-estado gregas[5] até o advento e consolidação do capitalismo industrial.

Genealogia da razão científica

Ora, como isso é possível? Diante de dúvida justa, porém, a sua resposta não demora: a formação dos conceitos da intuição espacial e temporal, assim como do entendimento racional, em suas especificidades reguladoras do entendimento filosófico e do pensamento científico, dá-se em um processo socialmente inconsciente, cuja genealogia está perdida na história da cultura humana.

O recalque em si mesmo dessa criação é possibilitado pela própria natureza da relação social mercantil. Contudo, o mecanismo de reforço desse “esquecimento”, segundo esse autor, também tem um fundamento objetivo: ocorre na separação e na afirmação da dualidade do sujeito e do objeto do conhecimento, originando-se, assim como essa própria separação, da divisão do trabalho em intelectual e manual. E essa cisão, para ele, acontece invariavelmente no processo social de apropriação da natureza nas sociedades de classe.

Sohn-Rethel menciona claramente que a crítica da economia política, de Marx, e a crítica da epistemologia burguesa, desenvolvida por ele próprio, originam-se ambas da análise da mercadoria. Se ele, pois, aprova e endossa tudo o que está escrito especialmente nos dois primeiros capítulos de O Capital, se é aí que encontra a fonte de seus próprios avanços teóricos, trabalha as características da forma mercadoria num sentido diferente daquele encontrado no texto consagrado.

 Marx, no capítulo primeiro daquela obra, partindo da mercadoria, apresenta as formas do valor e faz a gênese lógica da forma dinheiro. Como o seu objetivo é fazer a crítica da economia política, esmera-se em tornar explícito o conteúdo dessas formas, ou seja, aquilo que está aí implícito, ou seja, o trabalho abstrato como expressão real da sociabilidade inerente ao modo de produção capitalista. Ora, Sohn-Rethel vai estudar as mesmas formas absorvendo-se nelas próprias, ou seja, pondo entre parênteses a substância do valor, porque o seu caminho vai por outra direção. Se Marx trabalha o conteúdo das formas mercantis para dar conta rigorosamente dessas próprias formas, Sohn-Rethel trabalha as mesmas formas para tornar inteligíveis as formas categoriais mais gerais que subsistem na ciência matemática e positiva por excelência.

A tese central de Sohn-Rethel

Eis que o seu objetivo é fixar, partindo do processo objetivo da síntese social mercantil, certos pontos centrais para a crítica da epistemologia da tradição iniciada por Descartes e Galileu, que passa por Newton, que culmina em Kant e cujo declínio ainda não terminou. Assim como Marx chega ao conceito central de fetiche das mercadorias, Sohn-Rethel aponta para a existência nessa tradição de um fetiche do trabalho intelectual.

Essa tradição epistemológica, que ainda está muito viva na prática e mesmo na reflexão da ciência natural e social, sustenta que a abstração é um privilégio da subjetividade que acontece sempre – e só – no pensamento. Ora, o materialismo marxiano contesta essa suposição sustentando, tal como está dito na primeira tese de Ad Feuerbach, que todas as abstrações da mente estão fundadas na realidade efetiva, a qual deve ser apreendida como atividade humana, práxis, não como mera objetividade exterior e indiferente ao homem, de um modo subjetivo.

Na esfera da ciência social e histórica, esse materialismo vai além dessa consideração mais geral, afirmando precipuamente que “as categorias exprimem… formas de modos de ser, determinações da existência” inerentes à própria sociedade (Marx, 1978, p. 121). Certas abstrações que aparecem na ciência geral, natural ou social, estão fundadas em características intrínsecas das coisas tais como existem independentemente da atividade prática: por exemplo, o peso do ferro e a quantidade do bem tomate.

Porém, determinadas abstrações – e estas existem apenas nas ciências sociais – são produzidas por certos processos de redução ou de generalização inerentes à própria atividade humana sensível. Tais abstrações, mesmo se pertencem ao inconsciente social, são chamadas de reais. É dessa espécie, por exemplo, aquela que se origina na redução objetiva do trabalho concreto ao trabalho abstrato, que é – conforme a argumentação de Marx – inerente à própria produção e circulação de mercadorias no modo de produção capitalista. De qualquer modo, é por existirem realmente que o intelecto humano pode encontrá-las em sua atividade de compreender o mundo.

Sohn-Rethel parte daí para compreender a síntese mercantil como fonte das categorias a priori da sensibilidade e do entendimento, assim como a atividade sintética do próprio pensamento. Tal como diz, “a derivação das faculdades inerentes à consciência a partir do ser social pressupõem uma abstração que acontece no próprio ser social” (Sohn-Rethel, 2014, p. 48).

Segundo Sohn-Rethel, a forma mercadoria não só é abstração de ordem elevada, mas todo o processo social envolvido em sua continua reprodução é abstrativo. O valor de troca é abstrato quando confrontado com o valor de uso. Ele é já, propriamente, a abstração dos valores de uso. O valor de troca implica na posição de diferenças quantitativas que excluem as dimensões quanlitativas inerentes aos valores de uso enquanto tais.

O valor de troca se expressa concretamente no dinheiro, mas o dinheiro, mesmo como forma que adere ao corpo de um valor de uso particular, vem a ser uma abstração social enigmática; de qualquer modo, mesmo nesse caso, o valor de uso do material do dinheiro, desde que seja adequado à função de dar suporte à forma, pouco importa. O processo da troca gera o dinheiro e este, tal como Marx o mostrou – vem a ser uma representação abstrata e fetichista da sociabilidade mercantil.

Enquanto proprietário de mercadorias, o homem se torna um homem abstrato que é, por isso mesmo, chamado de homo oeconomicus. “Uma sociedade na qual a circulação de mercadorias forma o nexus rerum é, por fim, uma rede puramente abstrata, na qual todo o concreto se encontra em mãos privadas” (Sohn-Rethel, 2024, p. 52). A audácia da tese desse autor se mostra aqui com força total. Ele assevera e enfatiza que todo esse processo de abstração que envolve a troca de mercadoria não é algo que se origina na cabeça dos homens, mas em suas ações. Distingue, pois, aquilo que os agentes fazem daquilo que eles pensam:

“Enquanto os conceitos do conhecimento da natureza são abstrações mentais, o conceito econômico de valor é uma abstração real.  É isso que julgamos indispensável. E, embora ele não exista em nenhum outro lugar senão no pensamento humano, não surge do pensamento. Ele é imediatamente de natureza social, tem sua origem na esfera espaço-temporal do intercâmbio entre os homens. Não são as pessoas que criam essa abstração, mas suas ações, suas ações mútuas. ‘Eles não sabem disso, mas o fazem’ [como disse Marx]. (Sohn- Rethel, 2024, p. 53).

Posto isso, ele continua:

“A descoberta feita por Marx, assim entendida, encontra-se em contradição irreconciliável com toda a tradição do pensamento teórico e tal contradição deve ser levada a um ajuste crítico. (…) Não submeter a contradição entre a abstração real em Marx e a abstração intelectual da teoria do conhecimento a um ajuste crítico significaria admitir a falta de relação entre as formas de pensamento das ciências naturais e o processo social histórico. Ficaríamos na separação entre trabalho intelectual e trabalho manual e, sobretudo, admitiríamos a dominação de classes. (Sohn- Rethel, 2024, p. 53 e p. 55).

A mercadoria e os suportes

Não se poderá percorrer aqui todo o circuito de argumentos de Sohn-Rethel por meio do qual ele sustenta esse dois pontos. O primeiro deles depende centralmente de uma consideração sobre o desenvolvimento econômico: a estrutura formal da troca mercantil mediada pelo dinheiro, dominante no capitalismo, permanece sempre igual em todas as fases históricas precedentes, mesmo quando o modo de produção era centralmente escravista ou feudal. É isto o que lhe permite tornar plausível a existência de uma relação de constituição entre a forma mercantil de relação social e o pensamento racional.

Por “razão” deve se entender aqui, de modo nuclear, a faculdade de ligar e medir, de pensar e argumentar por meio de juízos encadeados, corretos e seguros, como numa demonstração matemática (Granger, 1985). Ainda que a idéia de pensamento racional – e de ciência – nunca tenha sido fixada para sempre, persiste a crença de que tem um miolo permanente e este é fornecido por princípios que estão estabelecidos na lógica formal e transcendental.

O segundo ponto depende da possibilidade de poder tratar a troca mercantil como um momento efetivamente abstraído da sociabilidade humana na esfera social e cultural, e que se afirma propriamente, em relação a essa esfera, como um hiato sistêmico. O conjunto da produção para a troca e a circulação de mercadoria constitui-se como uma totalidade de relações sociais – um sistema – que estrutura toda ação aí possível.

Sohn-Rethel põe esse hiato em foco quando desdobra a duplicidade valor de uso e valor de troca inerente à aparência da mercadoria na duplicidade de ação de uso e ação de troca, as quais ocorrem – e isto ele enfatiza como algo crucial – separadamente no tempo e, muitas vezes, também no espaço.

Eis que a troca é já sempre uma operação que evolve proporções, acarreta cálculos e que segue leis cegas. E cujo processo abstrativo não respeita nem a heterogeneidade do espaço nem a historicidade do tempo. Não só as ações de troca e uso devem acontecer de modo mutuamente exclusivo, mas a troca efetiva deve ocorrer num momento estático em que o desenrolar das histórias pessoais dos trocadores como que pára.

Cada troca em particular, ademais, põe-se objetivamente como uma igualação que advém de um acordo de vontades regulado e estruturado objetivamente. No ato da troca, as coisas trocadas devem permanecer idênticas e os homens devem nele comparecer como meros proprietários privados. Ora, esse momento frio, medido e desencantado na vida corriqueira do homem só se torna possível quando o próprio homem é forçado pelas circunstâncias da sociedade a atuar conforme as regras próprias do mundo das mercadorias, pondo entre parênteses tudo o que se passa no fluxo incessante do seu vivido.

Se a troca em si mesma põe a abstração dos valores de uso, requerendo que eles permaneçam apenas pressupostos, isto não implica que a preocupação com o uso por parte dos indivíduos desapareça. Tal abstração do valor de uso, entretanto – e isto é algo que Sohn-Rethel não se cansa de enfatizar –, ocorre de fato no ato da troca, mas não acontece na cabeça dos participantes da troca. Pois, esta continua, como sempre, centralmente preocupada com o valo de uso das coisas transacionadas.

Considerando os personagens econômicos atuantes no circuito M – D, tem-se que o comprador quer poder comer, vestir, etc. e que o vendedor de mercadoria que obter o dinheiro para poder igualmente comprar e, assim, comer, vestir, etc. Considerando, agora, o capitalista iniciador do circuito D – M – D’, tem-se que o dono do dinheiro quer adquirir força de trabalho e meios de produção necessários à produção de mercadorias. Eis que ele é um capitalista que quer valorizar o valor que possui.

Por outro lado, se a troca é um imperativo social na economia mercantil, cada troca em particular é um ato de vontade dos possuidores de mercadoria. Para que haja transação de mercadorias, é preciso que os donos das mercadorias “se relacionem entre si como pessoas cuja vontade reside nessas coisas” (Marx, 1983a, p. 79). E isso vale não apenas no circuito M – D – M, mas também no circuito D – M – D’:

 “Conforme a produção de mercadoria se desenvolve e se torna a forma típica de produção, a imaginação do homem torna-se… crescentemente individualizada, vindo a assumir a dimensão de consciência privada” (Sohn-Rethel, 2024, p. ).

Marx já dissera que as pessoas no processo de troca se tornam personificações das relações econômicas; o marxista crítico que aqui se resenha chega também, por um caminho algo diferente, ao indivíduo reificado que, do ponto de vista marxiano, não é ainda homem. Eis também porque a economia política, científica ou vulgar, gosta de robinsonadas…

Referências bibliográficas

Fausto, Ruy – Marx: lógica e Política. Tomo II. Editora Brasiliense, 1987.

Galvan, Cesare G. – Economia e filosofia: moeda, ciência, tecnologia e história. In: Revista da SEP, nº 6, junho de 2000, p. 124-139.

Granger, Gilles-Gaston – A razão. Edições 70, 1985.

Kant, Immanuel – Crítica da razão pura. Nova Cultural, 1991.

Marx, Karl – Para a crítica da economia política. In: Marx – Os pensadores. Abril Cultural, 1978.

_____________ – O capital – crítica da economia política. Abril Cultural: vol. 1, tomo I 1983a; vol. 2, tomo III, 1983b.

Prado, Eleuterio F. S. – Economia, Complexidade e dialética. Editora Plêiade, 2009.

Sohn-Rethel, Alfred – Intellectual and manual labor: a critique of epistemology. Humanities Press, 1978.

______________ – Trabalho intelectual e manual. Boitempo, 2024.

______________ – Trabalho espiritual e corporal. Texto para discussão nº 87, Universidade Federal da Paraíba, maio de 1995.

Vernant, Jean-Pierre – A formação do pensamento positivo na Grécia arcaica. In: Mito & pensamento entre os gregos. Paz e terra, 1990, p. 349-374.


[1] Professor aposentado do Departamento de Economia da FEA/USP. Correio eletrônico: eleuter@usp.br. Blogue na internet: https://eleuterioprado.blog . O presente artigo é um extrato modificado do capítulo 3, Abstração mercantil e teoria neoclássica, do livro Economia, Complexidade e dialética (Prado, 2009, p. 79-104).

[2] A formulação dessa tese tem precursores, em particular o historiador inglês Georg D. Thomson, que a desenvolveu no livro Studies in ancient Greek society, de 1955.

[3] Uma interpretação rigorosa das categorias de base e superestrutura pode ser encontrada em texto seminal de Ruy Fausto. “A natureza da relação entre a chamada “infra-estrutura” e a chamada “superestrutura” foi sempre um dos problemas insolúveis da teoria marxista. (…) A relação entre os “estratos” não é nem analítica nem sintética, nem contínua nem descontínua, a relação é a do implícito ao explícito, eis que no inferior a forma superior está pressuposta. Concebida sob essa forma, que é a que se encontra em O Capital, a distinção ganha rigor e interesse” (Fausto, 1987, p. 297-298). Especialmente se se considerar que ambos os estratos, mesmo se cada um dos estratos não subsista sem o outro, têm graus amplos de autonomia.

[4] Há, evidentemente, outros desenvolvimentos na filosofia da ciência social, tais como a fenomenologia e a hermenêutica, que escapam dessa caracterização. Eles, porém, não ajudam a compreender o uso preferencial da matemáticas nas teorizações científicas no campo da Física, mas também no campo da Economia Politica. Contudo, a formulação de Sohn-Rethel precisa, talvez, ser enfraquecida. A depuração filosófica das categorias do entendimento, ocorrida já na Grécia antiga provém, certamente, dos imperativos postos pela vida em comum e da vida política nas cidades-estados – e não das formas abstratas postas pelas relações de mercadoria que constituem o comércio. Eis que essa vida requer a argumentação racional que não prescinde da lógica clássica e da posição de princípios primeiros.

[5] Essa tese é discutida extensamente – e atenuada – no texto clássico de Vernant antes mencionado (1990).

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