Ora ameaça, ora apenas ferramenta, é ilusório ver a IA como externa a nós. Ela é fruto do mesmo aparato que reduz nossa subjetividade a um fluxo previsível. É hora de desertar da linha do tempo e reaver o tempo múltiplo – onde podemos ter voz própria
Largue a mão da IA, agarre o inconsciente
Autora: Veridiana Zurita [1] – Outras Palavras – 23/06/2023
Desde o lançamento do ChatGPT [2] em novembro de 2022, o debate sobre Inteligência Artificial (IA) reacendeu nas redes. Falar sobre IA está na ordem do dia. Debatemos sobre suas potências e limites, nossos deslumbramentos e medos frente a um sistema, supostamente, inteligente. As análises sobre o tema variam entre a ameaça de sermos dominados por “Alexas” e “Siris” e a impossibilidade de tal domínio, afinal nossa inteligência humana seria única, insuperável. De toda forma, o tom do debate coloca nós (humanos) versus ela (inteligência artificial). Dominados ou superiores, debatemos a IA inebriados por tal dualidade – aliás, característica de uma certa “inteligência humana”.
De um lado a IA é percebida como entidade tecnológica, uma aparição-mágico-maquínica que no futuro próximo dominaria o humano, superando sua inteligência e causando a temida extinção. Do outro, a IA é analisada como “não-inteligência”, como artificialidade-maquínica, que prevê comportamentos a partir de cálculos que jamais poderiam sistematizar aquilo que conhecemos como afetos, amor, ética e moral humana. Poderíamos dizer que as duas versões são e não são possíveis. O famoso é e não é dialético.
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